domingo, 6 de maio de 2012

O PRIMEIRO AVIADOR BRASILEIRO A ATRAVESSAR O ATLÂNTICO NO HIDROAVIÃO JAHÚ.

Morei na década de sessenta, com minha família nas proximidades do Parque de Ibirapuera, em S. Paulo.  Aos domingos e feriados e tínhamos o costume levar nossas filhas para ali brincarem com outras crianças de amigos, utilizarem os parquinhos e depois fazíamos uma bela merenda à sombra das árvores.

Sempre que havia exposições de arte, bandas de música, feiras como a famosa Fenit, ali passávamos as horas, e quando possível visitávamos o grande Museu do Ibirapuera. Recordo, e nunca esquecerei o fato dali vermos o JAHÚ, no setor chamado Oca.

O guia nos explicou que este hidroavião de cor vermelha fora utilizado e comandado por João de Barros, piloto paulista, que em 1927, fez a travessia aérea da Europa para o Brasil. 

Logo à minha mente chegaram os nomes de Gago Coutinho e Sacadura Cabral, pilotos portugueses, pioneiros dessa mesma aventura mas realizada em 1922. Que coincidência!     

Com minha grande admiração, quero, através deste nosso Blog prestar nossa homenagem a este herói brasileiro, pouco conhecido, que com arrojo, muita coragem e persistência levou o nome do Brasil para a história da aviação mundial enfrentando  obstáculos de toda ordem com seus três companheiros. 

João Ribeiro de Barros


 João Ribeiro de Barros nascido em Jaú em 4 de abril de 1900 — Jaú, 20 de julho de 1947, foi o aviador brasileiro que fez a primeira travessia             aérea aérea sobre  o  Atlântico Sul, no dia 28 de abril de 1927,  no         hidroavião Jahú.
Os demais tripulantes foram Arthur Cunha (na primera fase da travessia) e depois João Negrão (co-piloto), Newton (navegador), e Vasco Cinquini (mecânico).
Os quatro aeronautas partiram de Gênova, Itália, até a represa de Santo Amaro em São Paulo, fazendo escalas na EspanhaGibraltarCabo Verde, e Fernando de Noronha e nas capitais do litoral brasileiro.
Filho de Sebastião Ribeiro de Barros e Margarida Ribeiro de Barros. Estudou no Ateneu Jauense (fundado por seu avô o capitão José Ribeiro de Camargo Barros em 1853) e completou seus estudos secundários no Instituto de Ciências e Letras de São Paulo. Ingressou na Faculdade de direito do Largo de São Francisco por dois anos.
Em 1919 abandona este curso e decide dedicar-se ao estudo de engenharia mecânica nos EUA. Em 21 de Fevereiro de 1923 consegue o brevet internacional nº 88 da Liga Internacional dos Aviadores sediada na França onde inicia efetivamente sua carreira de piloto neste país.

Em 1926 iniciou o projeto que o tornaria famoso: realizar uma travessia aérea transatlântica a bordo de um hidroavião e chegar ao Brasil sem utilizar navios de apoio ao longo da viagem.
Pediu auxílio ao governo brasileiro e lhe foi negado. João Ribeiro de Barros, sem perder o ânimo, vende sua herança a seus irmãos e de posse deste dinheiro parte para a Itália, mas antes foi a Nova York pedir conslhos e orientação a seu amigo Gago Coutinho.




Logo depois seguiu para a fábrica de aviões SIA em Sesto Calende perto de Gênova na Itália para escolher um tipo de avião que lhe servisse. Não quiseram lhe vender um novo e apenas oferecer um abandonado.

Com os próprios recursos João Ribeiro de Barros adquiriu um hidroavião   Savoia-Marchetti S.55 avariado que ali estava feito de madeira e ferro com dois motores de 550HP cada um. Ribeiro chamou do Brasil o mecânico Vasco Cinquini, e o navegador Newton Braga, começaram a reformá-lo para melhorar a sua velocidade para 166kmh e autonomia de até 16 horas, tendo para isso reduzida sua carga ao peso mínimo para levar 16 reservatórios de combustível.  

Tais reformas foram tão positivas para o desempenho do hidroavião que impressionaram os italianos donos da fábrica.

Esta mesma aeronave fora utilizada pelo conde Casagrande que com apoio do governo italiano teve uma frustrada tentativa de travessia transatlântica Itália – Brasil, interrompida em Casablanca na África  e o avião foi considerado incapaz de realizar tal façanha.

Como o aparelho saíra da fábrica com o nome original de Alcione, João  rebatizou-o com o nome Jahú  (de acordo com a ortografia da época) em homenagem à sua cidade natal, Jaú em São Paulo.

                                           A VIAGEM

Reformado e equipado para longa viagem o Jahú saiu de Gênova na Itália em 13 de Outubro de 1926 com destino a Gilbraltar e dali às ilhas de Cabo Verde para iniciar a sua primeira travessia do Atlântico, como em 1922 fizeram Gago Coutinho e Sacadura Cabral na histórica primeira travessia aérea do Atlântico Sul. 

Após 5 horas de vôo os motores começaram a falhar e forçou-os a uma parada no mar de Alicante desconfiando de algo no combustível.  Na Espanha foram presos acusados de pousar sem permissão e depois libertados com a interferência do consulado brasileiro.

Abastecendo manualmente os motores chegaram a Gilbraltar e ali ao fazer uma revisão descobriram uma peça de bronze no cárter do aparelho e  águaareia e sabão no sistema de alimentação do motor.

Provavelmente fora sabotagem que lhes fizeram,  ainda na Itália, antes da partida de Gênova.

Após limpar os tanques de combustível seguiram para Cabo Verde, onde, em virtude de desentendimentos dispensou o co-piloto Arthur Cunha.

Quando se preparava para reiniciar a travessia contraiu malária que o obrigou a esperar mais um tempo na ilha  aproveitndo para outra revisão e consertar todo o avião.

Ali recebeu um telegrama do governo brasileiro ordenando que desistisse de sua tentativa de cruzar o Atlântico e deveria logo desmontar a aeronave, encaixotá-la e embarcá-la em navio que seguisse para o Brasil.

Indignado com este fato, e até porque não recebera nenhuma espécie de auxílio do governo para realizar sua empreitada, João Ribeiro respondeu por telegrama ao presidente brasileiro Washington Luiz:                                                                       Exmo. Sr.Presidente: Cuide das obrigações do seu cargo e não se meta em assuntos dos quais vossa excelência não entende e para os quais não foi chamado, assinado: Comandante Barros.
Ao saber do fato, sua mãe enviou-lhe este telegrama incentivando-o a prosseguir com o seu reide.


Aviador Barros:
Aplaudimos tua atitude. Não desmontes o aparelho. Providenciaremos a continuação do reide, custe o que custar. Paralisação do reide será fracasso. Asas do avião representam a bandeira brasileira...Dize se queres piloto auxiliar. Abraços a Braga e Cinquini. E bençãos de tua mãe. assinado:
Margarida Ribeiro de Barros



Seu irmão, Osório Ribeiro, logo viajou de navio até Cabo Verde acompanhado do co-piloto substituto contratado por ele, o oficial da força pública de São Paulo, tenente João Negrão.



Ao encontrar-se com o irmão e vendo o péssimo estado de saúde deste, após quatro crises de malária, Osório não conteve a emoção e chorou.



                                           A TRAVESSIA

Após sofrerer sabotagens, chantagens de companheiros, o desdém do presidente Washington Luís, João Ribeiro perseverou e às 4:30 H da manhã no dia 28 de abril de 1927, partiu de Praia na ilha de Santiago (Cabo Verde), cruzou o Atlântico com seus três companheiros a bordo do Jahú e pousou triunfante às 17:00 H na enseada norte de Fernando de Noronha  e ainda restavam 250 litros decombustível.

Apesar de um dos motores apresentar problemas durante a viagem e enfrentar chuva, conseguiu estabelecer um recorde de velocidade que só foi batido alguns anos depois, tendo voado numa altitude de 250m com velocidade de 190kmh, fez o percurso em 12 horas de vôo.



            Foto da época.     O JAHÚ nas águas de Fernando de Noronha




                                           O TRIUNFO

De Fernando de Noronha seguiu para Natal onde,  segundo  historiador Luís da Câmara Cascudo (no livro No Caminho do Avião... Notas de Reportagem Aérea 1922-1933), o JAHÚ amerrisou no Rio Potengi, na cidade de Natal, no dia 14 de maio de 1927, completando assim sua travessia sobre o Oceano Atlântico.

“Para a tripulação do "Jahú" foram merecidas e, para nós, justas e oportunas, as festas que se tornaram nacionais quando de sua amerrisagem no estuário do rio Potengi no Rio Grande do Norte.”

Depois de Natal,  seguiu  para RecifeSalvadorRio de JaneiroSantos onde foi recebido com grandes festas e honras.

Como se trata da única aeronave transatlântica da época que ainda existe e está com sua configuração original o avião Jahú foi restaurado pela empresa Helipark (de Carapicuíba – SP) e hoje está exposto no Museu Asas de um Sonho em São Carlos - SP.




O PÓS-TRAVESSIA TRANSATLÂNTICA

Depois de obter sucesso em sua reide, João Ribeiro de Barros partiu para novas aventuras.

Em 1929 viaja à França onde adquire da fábrica Breguet  uma grande aeronave. Com esta pretendia voar diretamente do Brasil para a Europa. Juntamente com o mecânico Mendonça, que acompanhou o processo de montagem do avião.

7 de Setembro recebe a notícia da morte de sua mãe D. Margarida, fato que deixa-o profundamente abalado. Envia o aparelho desmontado para o Brasil, onde, no campo de pouso Latecoere, na Praia Grande, cidade de Santos, o mesmo foi montado. Barros prestou uma homenagem à sua mãe dando-lhe o nome "Margarida."

Com ele voou até o Rio de Janeiro, de onde desejava partir do Campo dos Afonsos com destino à Europa.

Momentos antes da partida, mesmo sob os aplausos de uma multidão, é impedido de embarcar pelas autoridades pois iniciava-se a revolução de 1930 e por isso seu avião é sumariamente confiscado pelo governo. Frustrado e impedido até de aproximar-se da aeronave, então decide fazer uma viagem marítima à volta do mundo.

Em 1932 retorna apressadamente ao Brasil onde participa da Revolução Constitucionalista de S. Paulo como voluntário. Viaja a pé pelo Vale do Paraíba, até à cidade de Taubaté. Doa para a causa da Revolução todo o ouro que possuia, até mesmo medalhas recebidas pela façanha da travessia transatlântica de 1927.

Durante o governo do presidente Getúlio Vargas foi preso na cidade de Jaú, na fazenda Irissanga, de sua propriedade, pelo delegado Amaso Neto. Foi acusado de publicar clandestinamente um jornal de oposição ao governo.

É posto em liberdade, pois as investigações nada provaram contra ele.

Monumento na cidade de Jaú com seus  restos mortais.

Graças às suas façanhas, João Ribeiro de Barros conquistou títulos, prêmios e recebeu várias homenagens na França, Alemanha, Itália, etc

João Ribeiro de Barros faleceu na fazenda Iriçanga em sua cidade natal, Jaú, a 20 de julho de 1947, devido a problemas hepáticos provocados pela malária contraída anos antes.

Não casou nem deixou filhos.  Seu corpo sepultado no cemitério municipal , mais tarde seus restos mortais foram transferidos  para o monumento erigido à memória de sua pessoa e de suas grandes realizações.

REFERÊNCIAS:
MENDONÇA, Gerson. Asas Brasileiras.                                           BARROS, José Ribeiro de. História Heróica da Aviação

Um comentário:

  1. Parabens por nos trazer esta parte de nossa historia! Vi algumas vezes o Jahu totalmente abandonado e deteriorando no Campo de Marte / SP mas, para minha grande alegria, a ultima vez que o vi, estava em plena restauracaono Helipark. Merece um filme.
    Obrigado,

    Cmte. Moacir H. da Silva



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